1921
Clementino Rodrigues, que mais tarde entraria para a história da música brasileira como Riachão, nasce no dia 14 de novembro de 1921, na rua Língua de Vaca, no bairro do Garcia, em Salvador, sendo sua família natural do município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. Seu pai, José Euzébio Rodrigues, também conhecido como Zé Criolino, exercia o ofício de carroceiro e destacava-se em sua comunidade como sambador, exímio capoeira e um grande versador. Sua mãe, Maria Estefânia Rodrigues, era lavadeira e, anos mais tarde, iniciou-se no Candomblé. Tais influências familiares foram decisivas na formação musical do jovem Clementino, que, desde menino, bebeu da fonte de diferentes formas de expressão artística e cultural populares da Bahia.
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1930
Aos nove anos de idade, Riachão começa a cantar em festas de aniversário no bairro do Garcia. O repertório das apresentações é composto, basicamente, por sambas gravados por intérpretes do Rio de Janeiro que ouvia no rádio. O apelido que o consagraria por toda a vida veio nesta época, quando, ainda garoto, já tinha fama de brigão - um “riachão” que ninguém podia atravessar.
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1934
Uma data marcante para Riachão foi o dia 6 de janeiro de 1934. À época, com 12 anos de idade, já conhecido como um “menino fagueiro” que cantava samba e jogava capoeira, foi convidado para sair em um Terno de Reis. Como mandava a tradição, cabia a uma criança - ele, no caso - o papel de brincar, ao longo do cortejo, com um boneco, enquanto outro rapaz exercia a função de portar o estandarte. A lembrança desse ocorrido foi tão marcante que Riachão narrava o fato em quase toda entrevista que dera ao longo de sua vida.
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1936
Desde o final da infância, Riachão vivia a cantar em festas de aniversário e circos da cidade de Salvador, mas ainda não havia tido a oportunidade de criar seus próprios sambas. Foi então que, aos 15 anos, quando já exercia o ofício de alfaiate, compôs sua primeira música. Caminhando certo dia pela Misericórdia, na região central da capital baiana, encontrou um pedaço de jornal com os dizeres “Se o Rio não escrever, a Bahia não canta”. Incomodado com o que considerou uma provocação aos baianos, acabou, de forma espontânea, criando seu primeiro samba, “Eu sei que sou malandro” . E, desse dia em diante, não parou mais, chegando a criar, segundo suas próprias contas, mais de 500 músicas.
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1944
Após uma tentativa frustrada, Riachão volta a fazer um teste na Rádio Sociedade da Bahia em busca do sonho de se tornar artista. Em audiência com o paulista Mota Neto, novo diretor da rádio, tem a ideia de cantar uma música sertaneja de sua autoria, “Linda morena” , garantindo um contrato na emissora. Durante alguns anos, com efeito, apresenta-se como cantor de músicas sertanejas, estabelecendo algumas parcerias marcantes, como a realizada com o cantor Sabiá (Antônio Sabino Marques, que, mais tarde, também seria conhecido como Mestre Cavachão). Contudo, com o ingresso do compositor e jornalista pernambucano Antônio Maria na direção da casa, Riachão, finalmente, torna-se um cantor de samba, passando a se apresentar como artista solo na Rádio Sociedade da Bahia.
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1957
O samba “Meu patrão” é gravado por Jackson do Pandeiro com enorme sucesso, marcando a estreia de Riachão no meio fonográfico. A amizade com o cantor, compositor e músico paraibano e com sua esposa, Almira Castilho, teve início pouco antes, quando o casal acompanhou o sambista baiano em uma Queima de Judas promovida pela Rádio Sociedade da Bahia, no centro de Salvador, ocasião em que Riachão cantou um samba temático em alusão ao acontecimento. Anos depois, em 1962, o “Rei do Ritmo” gravaria este samba, batizado de “Queima do Judas” , além de uma outra composição do artista baiano, “Saia Rôta” , no LP “... é batucada! Com Jackson do Pandeiro, Almira e o ritmo empolgante dos Reis da Batucada” .
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1959
Um dos grandes clássicos de Riachão, o samba “Baleia da Sé” (ou “Umbigão da Baleia”) , é criado em um momento de inspiração do compositor, quando ele se depara, em uma jornada vespertina ao lado de alguns amigos, com uma enorme baleia embalsamada sobre uma carreta exposta na Praça da Sé, no centro de Salvador - empresários estadunidenses, promotores da exposição do animal, patrocinam a gravação do samba, mas o registro não chega a ser lançado comercialmente. A sensibilidade do compositor em narrar situações cotidianas como aquela o faz ser reconhecido, à época, como “O Cronista Musical da Cidade”. E, assim, nascem inúmeras crônicas musicais da capital baiana, como “A morte do alfaiate”, “Olha a onça aí” (ou “Onça Peteleca”) , “Tartaruga 70” , “Incêndio do Mercado Modelo” e “Visita da Rainha Elizabeth”.
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1961
O longa-metragem “A grande feira”, de Roberto Pires, traz uma breve participação de Riachão, interpretando um crooner em um cabaré, junto a uma pequena orquestra. O registro se faz histórico pelo fato de apresentar, pela primeira vez, imagens do sambista baiano, à época com 39 anos, e ganha ainda mais destaque pelo fato de trazê-lo cantando e dançando sobre um palco. É possível assistir ao filme e à brilhante atuação do malandro acessando a plataforma do YouTube.
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1971
No início dos anos 1970, encontrando-se desempregado após ter findado sua trajetória artística na Rádio Sociedade da Bahia, Riachão consegue, pelas mãos de Antônio Carlos Magalhães, um emprego de contínuo no Desenbanco (atual Desenbahia), instituição financeira vinculada à Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia. Sempre cantando, criando novas “crônicas musicais” e brincando com os colegas da “família desenbancástica”, como chamava os funcionários do banco, Riachão ali permaneceu trabalhando até 1998, quando, enfim, se aposentou.
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1972
O ano de 1972 representa um marco na trajetória artística de Riachão. É neste ano que Gilberto Gil e Caetano Veloso gravam o samba “Cada macaco no seu galho” , alcançando enorme sucesso com a gravação. Em diversas entrevistas, o sambista baiano conta que Gilberto Gil estava à procura de uma canção que simbolizasse sua volta do exílio, encontrando nesta composição a mensagem ideal que procurava. Lançado em um compacto simples pela Philips, o samba receberia, somente naquele ano, oito diferentes regravações, de artistas como Anastácia , Altamiro Carrilho e Trio Elétrico Tapajós, entre outros. Posteriormente, inúmeras outras regravações seriam realizadas, fazendo desta música o maior sucesso popular da carreira do sambista soteropolitano.
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1973
Ao lado de Batatinha e Panela, Riachão estreia no meio fonográfico com o álbum “Samba da Bahia”, gravado ao vivo no Teatro Vila Velha, em Salvador. Produzido por Paulo Lima - que, no ano anterior, já havia montado o espetáculo no Teatro Opinião, na cidade do Rio de Janeiro, dentro da série de shows “Para iluminar a cidade” -, a obra tem os arranjos assinados por Edil Pacheco e apresenta uma constelação de músicos baianos, como Cacau do Pandeiro, Armandinho, Vivaldo Conceição e Edson Sete Cordas. Neste debute como cantor em discos, Riachão brinda o público com os sambas “Vou chegando” , “Fufu” , “Cada macaco no seu galho” , “Pitada de tabaco” , “Ousado é o mosquito” e “Até amanhã” , além de “Terra hospitaleira” , de Edson Sete Cordas e Goiabinha. Jamais relançado em CD e considerado uma obra-prima do cancioneiro baiano, o álbum foi, por muitos anos, um objeto de colecionadores, mas, atualmente, encontra-se disponível em plataformas digitais de música .
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1974
Outra celebração ao samba da Bahia que traz Riachão e Batatinha como artistas principais é realizada em 1974, na TV Tupi, em São Paulo, com o programa MPB Especial, produzido por Fernando Faro. Desta vez, porém, ao invés de Panela, quem completa o escrete de bambas baianos é Ederaldo Gentil. Na apresentação, Riachão canta alguns clássicos de seu repertório, como “Baleia da Sé” , “Cada macaco no seu galho” , “Até amanhã” e “Retrato da Bahia” , além de sambas menos conhecidos, que jamais seriam gravados comercialmente, como “Rei do Café” . “Sofrer é natural” e “Eu não esqueço dela” , além de sua primeira composição, “Eu sei que sou malandro” . Em 2000, o Sesc São Paulo lança o áudio do programa em CD no âmbito da série “A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes”.
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1976
Baluartes da Era de Ouro do rádio soteropolitano e expoentes máximos do samba da Boa Terra, Riachão e Batatinha têm, ao lado do maestro Vivaldo Conceição, popularmente conhecido como o “Luminoso Diamante Negro da Bahia”, suas trajetórias artísticas retratatadas em uma obra cinematográfica. Dirigido por Tuna Espinheira, o curta “Samba não se aprende no colégio”, como o próprio diretor definiu, “tratava-se de uma reportagem visual com estas três figuras importantíssimas na vida da música popular baiana".
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1978
Riachão atua em seu terceiro longa-metragem, “J.S. Brown, o último herói”, dirigido por José Frazão, que também assina o roteiro ao lado de Tairone Feitosa. O filme traz em seu elenco principal nomes como Bete Mendes, Marcos Vinicius e Helber Rangel e apresenta a história de um aspirante a detetive particular que se envolve em uma trama de crimes e mistérios na cidade de Salvador.
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1981
Em 1981, Riachão lança seu primeiro álbum individual, “Sonho do Malandro” , com direção musical de Orlando Silveira e produção executiva de Geraldo Walter e Tânia Rocha. Gravado e mixado no lendário estúdio WR, em Salvador, o LP é financiado pelo Desenbanco (atual Desenbahia), instituição na qual trabalhava à época, e conta com a participação de célebres músicos baianos, como Edson Sete Cordas, Cacau do Pandeiro e Fred Dantas, entre outros. No repertório, Riachão apresenta sambas que até hoje, são considerados “lado B” de sua obra, como “Você tá viva” , “Eu também quero” , “Lavagem do Bonfim” e “Diga-me sim” - a exceção fica por conta do clássico “Baleia da Sé” , que tem, na ocasião, seu primeiro registro fonográfico comercial.
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1983
Juntamente a outros sambistas e agitadores culturais de Salvador, Riachão participa da criação do Projeto Cultural Cantina da Lua, iniciativa encabeçada por Clarindo Silva, cuja bandeira principal é “a luta pela revitalização do Centro Histórico e pela preservação da memória cultural da Bahia”. A estreia do projeto se dá com um encontro especial de sambistas da capital baiana, em um show batizado de “Os Onze de Ouro”, organizado em um palco improvisado ao redor da Cantina da Lua. Além de Riachão, compõe o escrete o seguinte time de bambas: Batatinha, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Claudete Macedo, Tuninha Luna, Walmir Lima, Paulinho Camafeu, Nelson Rufino, Tião Motorista e Bob Laô.
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1985
A efervescência da Cantina da Lua como espaço de convivência de sambistas baianos, de resistência cultural e de luta por direitos sociais para os moradores da região do Pelourinho é retratada em “A resistência da Lua”, curta-metragem dirigido por Octavio Bezerra e vencedor dos prêmios de Melhor Documentário no VII Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, em 1985, e do Tatu de Ouro, na XV Jornada Internacional de Cinema da Bahia, no ano seguinte. Além de Clarindo Silva, principal articulador e protagonista da obra, e Riachão, o filme apresenta outras personalidades ilustres de Salvador, como Batatinha, Claudete Macedo, Vivaldo Conceição, Balbino do Rojão, Vovô do Ilê e Mãe Hilda Jitolu.
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1997
O sambista baiano Batatinha entra em estúdio para gravar “Diplomacia” , seu terceiro álbum individual de carreira, que, por circunstâncias da vida, seria lançado apenas em 1998, após sua morte. Produzido pela dupla J. Velloso e Paquito, o CD traz no samba “De revólver, não” a presença dos bambas Riachão, Edil Pacheco, Walmir Lima e Nelson Rufino como convidados especiais. Durante a gravação, a performance de Riachão chama tanta atenção dos produtores do álbum que fica decidido, naquele momento, que o velho malandro seria o próximo baluarte a ganhar uma produção fonográfica dirigida pela dupla, promessa que seria cumprida em 2000, com a gravação de “Humanenochum”.
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1998
Riachão faz uma breve participação em “Rádio Gogó”, curta-metragem roteirizado e dirigido por José Araripe Jr., que apresenta a história de Gogó, um carioca que vive em Salvador narrando jogos de futebol de bairro (os famosos “babas”) com sua Kombi transformada em rádio e cabine de transmissão ambulante.
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2000
O ano 2000 chega para Riachão como um momento de importante reconhecimento e valorização artística, configurando-se em mais uma “redescoberta” de sua vida e obra, após o efervescente período vivido nos anos 70 e início da década de 80. Pelas mãos de Paquito e J. Velloso, o sambista baiano volta aos estúdios para gravar o CD “Humanenochum” , uma grande produção que contou com as participações de Caetano Veloso, Tom Zé, Carlinhos Brown, Dona Ivone Lara, Clarindo Silva, Armandinho, Roque Ferreira, Claudete Macedo e Sabiá, além dos produtores Paquito e J. Velloso. Com direção musical de Eduardo Luedy, o álbum apresentou velhos conhecidos músicos baianos com quem Riachão já havia atuado em outras gravações e apresentações musicais, como Cacau do Pandeiro, Edson Sete Cordas, Tuzé de Abreu, Valdir Lascada e Fred Dantas, além de representantes da chamada “nova geração” de instrumentistas soteropolitanos, como o cavaquinista Dudu Reis.
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2001
A boa fase de Riachão, iniciada no ano anterior, fica evidenciada neste primeiro ano do novo milênio, quando o sambista protagoniza o longa-metragem “Samba Riachão”, de Jorge Alfredo, que retrata a vida e a obra do compositor soteropolitano, apresentando, além da sua biografia, um panorama histórico do samba da Bahia a partir do depoimento de ilustres personalidades da Boa Terra. O sucesso do documentário o leva, neste mesmo ano, a viajar para Cuba, onde o filme é exibido no Festival do Novo Cinema Latino-Americano em Havana - a excursão ao país caribenho foi retratada no curta “Riachão em Cuba”, de José Américo.
Outro episódio marcante para a carreira de Riachão ocorrido neste ano de 2001 é a gravação de “Vai morar com o diabo” por Cássia Eller, no álbum “Acústico MTV”. A música alcança enorme sucesso, levando a obra do compositor baiano para um público que, até então, tinha pouco contato com seu universo musical. Por fim, no ano de 2001, Riachão volta a protagonizar um novo programa Ensaio (ex-MPB Especial), na TV Cultura, desta vez, trazendo como convidado Sabiá, seu antigo companheiro na Rádio Sociedade da Bahia.
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2002
Depois de atuar no longa “Os pastores da noite”, nos anos 70, Riachão volta a fazer uma participação na adaptação da obra de Jorge Amado para a televisão. A minissérie, produzida pela Rede Globo, foi exibida em quatro capítulos nos meses de novembro e dezembro de 2002, e contou com roteiro adaptado de Cláudio Paiva e direção de Maurício Farias. Neste mesmo ano, o sambista é laureado com a condecoração de Honra ao Mérito pelo Governo do Estado da Bahia.
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2004
Em 2004, Riachão apresenta-se em dois projetos realizados no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). No Rio, em uma das apresentações da série “Brasil de todos os sambas”, divide o palco com Dona Ivone Lara, Roque Ferreira e Jussara Silveira. Depois, em Brasília, no âmbito do projeto “Da idade do mundo”, o show traz como convidada Beth Carvalho, a “Madrinha do Samba”.
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2005
Em sua primeira excursão à Europa, Riachão apresenta-se no Citè de la Musique - Philharmonie de Paris, na capital francesa, em um espetáculo batizado de “Bahia, la art de la fête” (“Bahia, a arte da festa”, em tradução livre), sendo acompanhado pelo grupo paulista Quinteto em Branco e Preto. Durante a turnê, concede entrevista - que pode ser assistida na íntegra no site da instituição cultural francesa - a Jean-Pierre Estival e Ricardo Vilas.
Neste mesmo ano, o sambista baiano é um dos protagonistas da série “O Milagre de Santa Luzia”, que, em sua segunda temporada, apresenta doze mestres da cultura popular brasileira. Dirigido por Sérgio Roizenblit e produzido pela Miração Filmes, a série é exibida no Canal Curta! e, atualmente, integra o catálogo de produções audiovisuais do portal de curta-metragens.
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2006
Em agosto de 2006, Riachão participa do show de Beth Carvalho em homenagem ao samba da Bahia no Teatro Castro Alves, em Salvador, cantando “Cada macaco no seu galho” e “Vá morar com o diabo”. No ano seguinte, “Beth Carvalho canta o Samba da Bahia” é lançado em CD e DVD, trazendo as participações de Riachão, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Nelson Rufino, Margareth Menezes, Mariene de Castro, Ivete Sangalo, Armandinho Macedo, Olodum, Roberto Mendes, Danilo Caymmi, Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Maria Bethânia.
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2007
Dois anos depois da ida à França, Riachão volta a se apresentar em solo europeu, desta vez em Munique, na Alemanha. Na ocasião, o sambista realiza uma participação especial no espetáculo “Born to Samba”, que traz como protagonistas os também baianos Mateus Aleluia, Raimundo Sodré e Mestre Bule-Bule, além de músicos da nova geração da Boa Terra, como Gustavo Caribé, Kiko Souza, Da Ilha Mendes e o grupo BitGaboott.
O ano de 2007 também é marcado por uma série de condecorações e reverências recebidas por Riachão, a começar no Carnaval, quando é o grande homenageado pela Prefeitura de Salvador naquela que é uma das mais tradicionais festas populares do planeta. A municipalidade soteropolitana também concede ao sambista, naquele ano, a Medalha 2 de Julho, oferecida a personalidades com “relevantes serviços prestados à cidade de Salvador”. Por fim, em um evento realizado na Câmara Municipal de Salvador, recebe o Anel de Bamba pelo Clube do Samba da Bahia.
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2008
No dia 5 de janeiro de 2008, morrem, em um acidente de carro ocorrido na região dos Lagos, no Rio de Janeiro, sua esposa Dalva, sua filha Railene, sua nora Tatiane e seu genro Erivaldo - seu filho Volnei também faleceria poucos dias depois. Após a terrível fatalidade, o sambista entra em profundo luto, cancelando diversos compromissos profissionais e recolhendo-se em sua casa no Garcia por um longo período. Graças ao cuidado e o amparo de amigos, como o do velho companheiro Clarindo Silva, aos poucos, Riachão retoma as aparições públicas e a vida artística.
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2009
É lançada, no âmbito da coleção “Gente da Bahia” - série editada pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (Alba) -, a biografia do sambista soteropolitano. De autoria de Janaína Wanderley da Silva, “Riachão, o Cronista Musical da Cidade” é, até a presente data, a única obra biográfica dedicada ao compositor.
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2010
Em maio de 2010, Riachão apresenta-se no Teatro Castro Alves, em Salvador, com Elza Soares e Mariene de Castro, no I Concerto Afro-Latino, solenidade que marca a abertura do II Encontro Iberoamericano de Ministros da Cultura para uma Agenda Afrodescendente nas Américas. O evento, promovido pela Fundação Cultural Palmares, teve como temática “A força da diáspora africana”.
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2013
Treze anos após o lançamento de “Humanenochum”, Riachão volta ao estúdio para gravar “Mundão de Ouro” . O álbum traz oito músicas inéditas (sete sambas e uma marcha-rancho), quatro regravações (“Eu vou chegando” , “Eu queria ela” , “Vá morar com o diabo” e “Cada macaco no seu galho” ) e três faixas em que ele comenta sobre o processo criativo de suas composições. A escolha das composições inéditas, realizada por Vania Abreu e Serginho Rezende (produtor do disco ao lado de Cássio Calazans), se deu a partir do registro “a capella” de 59 músicas do compositor baiano em estúdio, em uma iniciativa que, à princípio, também previa a criação de um site e um DVD.
Após o lançamento de “Mundão de Ouro”, o sambista realiza uma pequena turnê em São Paulo, apresentando-se no Sesc Pompeia com os músicos que o acompanharam na gravação do disco, e no Espaço Cachuera!, no show “Valeu, Riachão!”, que marcaria a criação do Bambas de Sampa, conjunto que acompanharia Riachão em seus últimos anos de vida. Na passagem pela capital paulista, ainda grava o programa "Sr. Brasil”, na TV Cultura, interpretando os sambas “Parabéns”, “Cada macaco no seu galho”, “Somente ela” e “O Rei do Café”.
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2015
Em outubro de 2015, a Prefeitura de Salvador oficializa a criação do "Circuito Riachão" no Carnaval da cidade, no trajeto que vai do Final de Linha da Fazenda Garcia (Praça Marques de Olinda) até o Campo Grande e que, tradicionalmente, recebe, às segundas-feiras do Reinado de Momo, a Mudança do Garcia, tradição carnavalesca quase centenária da Cidade da Bahia. Por muitos anos, até o fim de sua vida, Riachão acompanhou, da varanda de sua casa, a passagem dos foliões pela rua Prediliano Pitta, sempre convidando amigos e a imprensa soteropolitana ali presente para confraternizar e comer um suculento feijão.
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2017
O ano de 2017 marca a última turnê realizada pelo baluarte do samba baiano, quando apresenta-se nas unidades da Caixa Cultural de Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. No total, foram realizadas 16 apresentações (quatro em cada cidade), de junho a dezembro, sempre acompanhado do conjunto Bambas de Sampa - um ano antes, o grupo já havia acompanhado o sambista em duas apresentações no Sesc Pompeia, em São Paulo, na ocasião da celebração de seus 95 anos de vida.
Neste mesmo ano de 2017, Riachão presta depoimento para o Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro (MIS-RJ), na série “Depoimentos para a posteridade”, sendo entrevistado por Martinho da Vila, pela pesquisadora Janaína Marquesini e pelos jornalistas Hugo Sukman e Tárik de Souza.
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2018
Depois de cinco anos acompanhando Riachão (e outros sambistas baianos, como Edil Pacheco e Guiga de Ogum), o conjunto Bambas de Sampa lança o álbum “Todo mundo tem que falar” , trazendo três sambas inéditos do compositor soteropolitano, “Olha a onça aí” - em que ele também atua como intérprete -, “Panela no fogo” e “Todo mundo tem que falar” .
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2019
Em julho de 2019, aos 97 anos de idade, Riachão realiza os dois últimos shows de sua vida, no Sesc Pompeia, em São Paulo, acompanhado pelo grupo Bambas de Sampa e por dois grandes amigos, Martinho da Vila e Clarindo Silva. Batizado de “Se Deus quiser, vou chegar aos 100”, o espetáculo teve a cenografia inspirada no restaurante soteropolitano Cantina da Lua, palco de muitos encontros e rodas de samba do baluarte baiano com outros sambistas da Boa Terra.
Um mês depois, em Salvador, Riachão é homenageado pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) no seminário “Eu sou o Samba”. Além do sambista baiano - que contou histórias de sua trajetória artística e cantou alguns sambas de sua autoria -, a mesa trouxe a presença de Alessandra Carvalho da Cruz, Chocolate da Bahia, Enio Bernardes, Juliana Ribeiro e Roberto Mendes.
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2020
No dia 30 de março de 2020, Riachão falece em sua casa, no bairro do Garcia, por causas naturais. Segundo seus familiares, o sambista sentiu dores abdominais na noite anterior, precisando de atendimento médico, e morreu enquanto dormia, no decorrer da madrugada. Por conta da pandemia de covid-19, o compositor não pôde ter uma despedida à altura de sua grandeza enquanto artista e sambista, comparecendo em seu velório apenas alguns familiares e amigos próximos.
Alguns meses após o falecimento do sambista, é lançado o curta-metragem de animação “Riachão, o último malandro”, com roteiro de André Carvalho e arte de Alexandre de Maio. O projeto foi contemplado pela 8ª edição do edital Calendário das Artes 2020, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), na categoria Artes Integradas.
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2021
No ano em que completaria 100 anos, Riachão recebe uma homenagem da Arte Sintonia Companhia de Teatro, que, em parceria com a Sapoti Produtora, apresenta o espetáculo cênico “Xô Xuá – Um Samba para Riachão". Com texto de Ilma Nascimento, a peça teve direção de Antônio Marques, direção musical de Ronilson Dias, direção coreográfica de Cristiane Florentino, e trouxe o Agamenon de Abreu na interpretação do sambista baiano (além da participação especial de Davi Zion no papel de Riachão adolescente).
Ainda no âmbito das comemorações do centenário do baluarte baiano, a Câmara dos Vereadores de Salvador, por iniciativa do vereador Silvio Humberto (PSB), realiza uma Sessão Especial em homenagem a Riachão, tendo como convidados Aladilce Souza, Clarindo Silva, Jones Rodrigues, Flora Poppovic, Raimundo Badaró, André Carvalho e Paulinho Timor.
Por fim, no dia 14 de novembro, dia em que completaria um século de vida, amigos e familiares realizam, no Garcia, onde Riachão viveu por toda a vida, uma missa e um cortejo pelas ruas do bairro. A data também marca o lançamento, na Cantina da Lua, de “Riachão – O retrato fiel da Bahia”, documentário dirigido por Carolina Canguçu, com produção de Larissa Leão e roteiro de Silvana Moura. Produzido pela TVE, o filme apresenta grande parte do acervo da emissora sobre o compositor, além de entrevistas e encontros musicais com personalidades, pesquisadores, amigos, familiares e sambistas baianos.
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2025
É lançado o álbum póstumo “Onde eu cheguei, está chegado”, composto por dez sambas inéditos do sambista baiano homenageado. Além de registros do próprio Riachão cantando, o disco traz as participações especiais de Martinho da Vila, Teresa Cristina, Pedro Miranda, Roberto Mendes, Taian Paim, Josyara, Nega Duda, Criolo, Enio Bernardes e Juliana Ribeiro.